quarta-feira, 27 de agosto de 2014

febril

Estás-me na roupa e estás-me na pele e estás-me nos olhos e estás-me nos lábios. És-me os pesadelos, os desvairos conscientes e os passeios da noção que eu não controlo. Estás-me no peito como uma ferida que não conhece a cura. Estás-me em todas as músicas e todos os filmes e todos os poemas (estás-me na raiz da raiz).

Só quero conhecer um pedaço de mim onde não mores e mudar-me para lá.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

tudo bem.

Está tudo bem.
Ainda que já seja de noite outra vez e nada tenha sido corrompido pelo desejo. Ainda que o sono esteja vazio e os pesadelos cheios. Ainda que a fala se tenha calado e os lençóis se fiquem pelo singular. Ainda que os corpos se queimem pela distância. Ainda que a coragem se fique pela falta.
Está tudo bem.
Tapei-me com o breu e estendi a mão. Ainda estavas lá para a agarrar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

fragmentos


Reconheceram-se no sal das lágrimas. Enterraram-se nos lençóis. Consumiram-se nos beijos. Queimaram-se na dependência. Riram-se dos vazios. Viram países - e cidades, e aldeias; e barcos e comboios e carros e aviões. Abraçaram-se à distância. Romperam multidões com os olhos. Deram as mãos às escondidas. Destruíram-se de repente. Amaram-se até ao fim.
Mas nada. Nunca nada aos poucos. Nunca nada pela metade.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

E não adiantam.
Nem os fogos de vista nem as tesões passageiras nem os contos de fada de verão.
Tudo menos que tudo é nada.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O custo.

Mas custou.
Meu, se custou.
Porque obrigou-me a parar de escrever - tirou-me o objeto das letras - e deixou-me num vazio do qual ainda não sei sair.
Roubou-me o sentido (agora vou aprender a ser sem ti) e escondeu-me o norte. 
Foi um delírio, eu sei que foi. Arrancado pelo conforto romanceado da facilidade. Ficar no mesmo sítio sempre foi mais fácil.
Mas estou finalmente a falar no tempo verbal certo e a negar as recaídas e a sair da tortura a que gostava de chamar amor.