quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Ler-te nas páginas todas e escrever-te até a insónia me acordar. Estou cansada das noites brancas e desta apneia que não me deixa ver nada que não sejas tu. Já chega. Por favor, já chega.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

As saudades são uma coisa feia. Não respiram pelo grande, pelo nobre, pelo vasto. Prendem-se ao pequenino e ao irrisório num jogo fútil em que o poder está do lado de quem não gosta mais. São picuinhas e são sujas. E subsistem desgraçadamente nos acessórios. Como a forma de pegar na garrafa de cerveja. Ou a maneira estúpida de fumar. Ou o jeito de despentear o cabelo para não estar demasiado arranjado. Ou a gargalhada doce. Ou a cara emaranhada de criança. Ou os olhos inchados das lágrimas que doíam mais que as minhas. Ou os caminhos perdidos. Ou o cheiro das mãos. Ou o conceito de casa. Ou as músicas que deixaram de ter seis minutos e quarenta e três segundos para durarem uma vida inteira.


domingo, 5 de outubro de 2014


(Paris, 1 de outubro)

Deixei a vida no quarto. Trouxe o vinho e os cigarros e o papel e a caneta. Deixei-te lá também porque hoje não quero pesadelos.
O chão está encharcado e a alma está cheia. A rua está morta e já não sei se é ela que se ri para mim sou se as palavras escritas fazem eco.
Lá vêm as insónias, com os tanques de guerra carregados. Lá vem a noite branca da chuva demitida, da loucura aplaudida, da cidade que me abraça o coração com promessas de brandura temporária. Não faz sentido. E vou-me arrepender disto amanhã.