domingo, 25 de agosto de 2019

Quero contar-te todo o ar que me tocou desde que me despedi de ti na última vez. Continuo sem saber assobiar e ainda gostaria de morrer atropelada por um camião do lixo cor de rosa. À noite, as minhas mãos cheiram a creme e ainda tenho ventos de perfume no cabelo. Há uns meses caí no chão e desde aí que não há um dia que não me dê um pontapé. Fiquei à espera que me ensinasses a andar de bicicleta. Às vezes digo alto o quanto gosto dos teus olhos e envergonho-me. Imagino muitas vezes como seria acordar a olhar para eles, que cheiro pregarias aos meus lençóis novos. Quero contar-te que comecei a escrever poemas mas não te vou contar que já os escrevi para ti porque continuo a ter vergonha do teu sorriso. Deixei de acreditar em fadas e na felicidade e em nós e não desminto que isto possa estar tudo relacionado. No dia em que perdi o controlo, em que te mandei a mensagem de que falava ali em baixo, não consegui comer. Não gostei da tua resposta, não percebo se estes cinco anos passaram para ti como passaram para mim, no sufoco cego da saudade. Não encontro as cartas que me escreveste. Quero contar-te que sou crescida, agora, que estou bem. Que não creio em nada, só no amor e nas palavras, que para mim são a mesma coisa e que há noites em que essa mesma coisa és tu. Se calhar estou bêbada.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

já não tenho idade para nada, muito menos para isto, fazes a idade escorrer-me pelos cabelos há quase quinze anos. há quase quinze anos que me tiraste cada grão de areia desta praia e cada grama de sal deste mar e cada aresta morna destas rochas. tiraste ou atiraste, nem sei, eram nossos, ainda são? e sempre que aqui venho penso que invocas os deuses em mim. nem sequer sei o que isto é mas também sei que é a mais pura das verdades, não chegando ainda a ser amor, não agora, mas já foi ainda é? continuas a ser a única constante no fundo do meu estômago, o único que fez dele o que quis, com tantas voltas que lhe deu, sem querer saber se eu tinha outro em casa, eras assim um arrastão de vento quente, ainda és? ainda és porque aqui tudo cheira a ti, tudo sabe a ti, tudo soa aos dedos das tuas mãos nas minhas, às escondidas, às revelias da vida. quero-te na minha cama, ainda queres? hoje acordei e amarrei os braços atrás das costas porque foi um esforço titânico não te enviar, depois de cinco anos, olá, onde é que estás?