domingo, 18 de setembro de 2016

chamei-lhe o meu restaurante. está cheio de turistas. não é nada de especial. massa feita no ponto. pouco mais.
aborrece-me passar horas em museus para ser testemunha de génios mais inteligentes que eu.
também não quero fingir que sou daqui. quero fingir que sou de lá e moro aqui. 
do you need something milady? não, só de tempo. e de parágrafos. gostava de escrever poesia mas precisava de mais parágrafos ou de uma vida com uma métrica decente.
fui sempre ali. tem toalhas aos quadrados, flores de plástico e velas elétricas. mas não tem vertigens nem gorjetas. não tem crianças, também. passo o tempo a ler. a ver pessoas tropeçarem na calçada e na vida. a fingir que gosto de estar sozinha, que estou numa viagem de autodescoberta quando tudo o que eu queria era saber a história do empregado indiano que arrasta as trombas no chão mal encerado.
saio e sento-me quase no mesmo ponto dos degraus do Duomo a escrever livros na cabeça. esqueço-me deles todos quando me lembro que não estás aqui. merda pra ti. queria que estivesses aqui. queria que estivesses em todo o lado porque o dia cheira sempre melhor quando estás à distância de dedos entrelaçados. a culpa disto é tua, o amor é o meu incenerador de palavras. acendo um cigarro com o outro. se calhar um dia alguém vai pagar bilhete para atirar moedas no ponto exato onde eu os apago. se calhar não.

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