quarta-feira, 26 de junho de 2019


Imagino que é de noite e que estamos deitados no chão da cidade que estremece em sussurros.
Imagino a ausência de palavras que nos fica pela saliva, fica a dançar-nos na beira dos lábios quentes.
Imagino os nossos olhos petrificados pelas estrelas, o ar congelado em cima de nós, sentado em cima do nosso peito. Singular.
Imagino que me estás a escrever dentro de ti. Estás a voar nos meus cabelos espalhados pela calçada, no cheiro que trago ao pescoço, na minha boca tão pronta que nem a pintei de sangue, nos estilhaços que sou e que tento colar com poemas. Estás a ver-me fumar de olhos fechados e a saber que só paro de me atirar quando o meu corpo chegar às rochas, quando estiver tão quebrado como eu. Estás a ver-me cair e cais comigo, caímos juntos, meu bem, caímos sempre juntos.
Imagino isto porque imagino que ao teu lado, a tocar-te ao de leve na pele, ao de leve, ao de leve, eu faço o mesmo, imagino. Escrevo-te dentro de mim sempre que te vejo, sempre que caio para dentro dos teus olhos e caio mais depressa e tu cais comigo, caímos juntos, meu bem, caímos sempre juntos.

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